13 de agosto de 2006

Casa da Música do Porto - Concerto e visita guiada (16 de Dezembro)



Caros colegas,

Até ao próximo dia 15 de Setembro, estarão abertas inscrições para uma deslocação à Casa da Música do Porto, com o intuito de se assistir ao concerto da Orquestra Nacional do Porto, que se irá realizar no dia 16 de Dezembro do presente ano, pelas 21.00 horas, existindo ainda a possibilidade de se efectuar uma visita guiada ao complexo.

Esta acção tem como principal objectivo, proporcionar aos músicos, novas experiências no que concerne à audição de concertos convencionais, incutindo novos hábitos e regras, sempre que se encontrem na qualidade de ouvintes.


A selecção do concerto foi efectuada tendo por base os seguintes critérios:
a) Data que permitisse a participação de todos;
b) Preço do espectáculo;
c) Qualidade dos intérpretes;
d) Programa apelativo e pedagogicamente relevante.

No âmbito do programa importa referir que serão executadas obras exclusivamente reportadas ao século XX.
A primeira peça em audição será a suite “O Cavaleiro da Rosa” de Richard Strauss (1864 – 1949), obra do pós-romantismo, resultando da ópera com o mesmo título, datada de 1909. A obra é considerada uma síntese da musicalidade vienense, estando a valsa presente em diversos momentos.

Seguidamente, será executado um concerto para violino e orquestra (Offertorium) de Sofia Gubaidulina (n.1931), obra que notabilizou esta compositora nos anos 80, principalmente pela mão do intérprete Gidon Kremer. (embora se trate de um concerto para violino, ou seja, um instrumento inexistente na tradicional composição das bandas e filarmónicas em Portugal, permitirá debelar o estigma associados aos executantes deste tipo de agrupamentos, os quais, usualmente, menosprezam as riquezas tímbricas e intepretativas dos restantes instrumentos e instrumentistas, limitando significativamente a sua visão e percepção musical, inviabilizando mesmo, a sua abertura a novas experiências musicais).

Para finalizar será executada a “Sagração da Primavera” (versão concerto) de Igor Stravinsky (1882 – 1971). A Sagração da Primavera (1913), balet em dois actos, é considerada a obra que marca o início do modernismo na história da música. Feita sob encomenda para os Balet Russos de Diaghilev, teve sua Premiére no dia 29 de Maio de 1913 no Théâtre des Champs-Élysées, em Paris. Com uma exótica abordagem rítmica, desafiando um bom número de regras e contestando tudo que se conhecia até então, a obra causou um escândalo memorável na capital francesa. A Sagração conta a história da imolação de uma jovem que deve ser sacrificada como oferenda ao deus da primavera num ritual primitivo, a fim de trazer boas colheitas para a tribo.
A obra subdivide-se em duas partes principais: 1.A adoração da terra (8 secções); 2.O sacrifício (6 secções). A orquestração necessária é gigantesca (nada menos que 8 trompas no colossal grupo de 38 instrumentos de sopro). A obra confronta todas as exigências da tradição da música ocidental, que, até o início do século XX, colocam a melodia e a harmonia acima do ritmo na hierarquia dos elementos musicais. A Sagração subordina as duas primeiras a terceira. Essa inovação e a inspiração que ela causou nas gerações futuras causaram uma profunda revolução naquilo que se acreditava em música.

Relato por Stravinsky dos acontecimentos verificados na estreia:
"A complexidade da minha partitura exigiu um grande número de ensaios, que Pierre Monteux [o maestro] conduziu com sua habitual habilidade e atenção. Quanto à apresentação final, não posso comentar pois saí do auditório aos primeiros compassos do prelúdio, que provocaram risos imediatos da plateia. Eu estava revoltado. Aquelas demonstrações, inicialmente isoladas, logo se espalharam, provocando contra-demonstrações, e logo havia uma grande algazarra. Durante todo o tempo, estive ao lado de Nijinsky nos bastidores. Ele estava em pé numa cadeira, gritando "16, 17, 18..." - era a marcação para os bailarinos. Naturalmente, os pobres dançarinos nada podiam ouvir por causa do barulho da plateia. Tive que segurar Nijinsky pelas roupas, pois ele estava furioso, pronto para subir ao palco a qualquer momento e criar um escândalo. Diaghilev mandava os electricistas acenderem e apagarem as luzes sucessivamente, esperando com aquilo parar o barulho. Isto é tudo o que me lembro daquela primeira apresentação. Estranhamente, tínhamos efectuado um ensaio geral para o qual convidamos, como era costume, vários actores, pintores, músicos, escritores e outros representantes da sociedade culta, e tudo tinha transcorrido pacificamente, o que me deixou ainda mais surpreso com o tumulto da estreia."

Muitos ouvintes casuais de hoje ainda se espantam ao primeiro contacto com "A Sagração da Primavera", contudo, depois de se habituarem e embrenharem nesta música, acabam-se apaixonando por ela, circunstância que ocorreu com o público do início do século. Após a tumultuada estreia, o bailado de Stravinsky tornou-se peça fundamental do repertório musical, deixando mesmo para trás a dança e sendo apresentado como obra sinfónica pura. Com o tempo, chegou a ser suficientemente popular para se tornar uma das partituras escolhidas para os desenhos animados dos estúdios Disney Fantasia. Mas o que havia de tão diferente com "A Sagração da Primavera" para causar tamanha estranheza na sua noite de estreia? Basicamente, a música era tão inovadora, em tantos aspectos, que o público ainda não estava preparado para a absorver, muito menos para a apreciar. Tudo começa com um solo agudo de fagote, que lembra vagamente o solo de flauta de Prélude à l'après-midi d'un Faune, de Debussy (que, não por acaso, assistiu à triste estreia de A Sagração de Primavera). Vão entrando outros instrumentos de sopro, com fragmentos sobrepostos e dissonantes, depois as cordas, em acordes batidos e ferozes. A sensação é de caos, mas um caos controlado, planeado. A percussão agressiva e de ritmos variados vem dar ênfase a tudo isto, realçando a complexidade harmónica e a riqueza da orquestração. Há um vigor primitivo que transmite perfeitamente a ideia que deu origem ao bailado cujo subtítulo é "cenas da Rússia pagã".
O próprio Stravinsky conta como nasceu A Sagração da Primavera: "Um dia, quando eu terminava O Pássaro de Fogo em São Petersburgo, tive uma visão fugidia num momento em que minha mente, surpreendentemente, estava ocupada com várias outras coisas. Imaginei um solene rito pagão: sábios anciãos, sentados em círculo, assistindo a uma garota que dança até morrer. Eles estão a sacrificá-la para apaziguar o deus da primavera. Este é o tema de A Sagração da Primavera."

Num próximo post, será apresentada uma breve biografia alusiva aos compositores em audição.

Será ainda importante referir que, a direcção da AMBO se prontificou a assumir os encargos inerentes às despesas de deslocação (transporte), ou seja ,os interessados deverão suportar o preço do ingresso e da visita de estudo (caso estejam interessados).


Esperando o interesse e participação de todos.

Saudações musicais.


Notas:
As inscrições deverão ser efectuadas nos dias dos ensaios.

1 comentário:

João Subtil disse...

Eheh Eu vou...Vai ser Muito Fixe...